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Origens dos índios e história
Origens dos índios e história


Origens dos índios e história

"Família de um chefe Camacã se preparando para a festa", por Jean-Baptiste Debret.

Pesquisas arqueológicas em São Raimundo Nonato, organizadas pela arqueóloga Niède Guidon no interior do Piauí, registram indícios da presença humana datados como anteriores a 10 mil anos.[2] A maioria dos pesquisadores acredita que o povoamento da América do Sul deu-se a partir de 20 mil a.C.[3] Indícios arqueológicos no Brasil apontam para a presença humana em achados datados de 16 mil a.C., de 14.200 a.C. e de 12.770 a.C. em Lagoa Santa (MG), Rio Claro (SP) e Ibicuí (RS).[3] Em Lapa Vermelha, (Minas Gerais), foi encontrado um verdadeiro cemitério com ossos datados em 12 mil anos, o primeiro dos quais encontrado por Annette Laming-Emperaire na década de 1970 e que foi "batizado" de Luzia[2] e que parecia mais aparentada com os aborígines da Austrália ou com negrito das Ilhas Andaman.

Todos os seres humanos são descendentes dos mesmos antepassados que habitaram a África milênios atrás. A espécie humana surgiu na África, há cerca de 130 mil anos. Por milhares de anos, a África foi o único lugar do mundo onde havia seres humanos. As primeiras pessoas só saíram do Continente Africano há cerca de 50 mil anos e, a partir de então, passaram a se espalhar pelo resto do mundo.[4] Os humanos caminharam, durante milhares de anos, rumo ao norte, até saírem da África e atingirem a região que hoje conhecemos como o Oriente Médio. Por centenas de anos esse grupo de pessoas viveu no Oriente Médio até que, em algum momento da História, parte desse grupo de pessoas tomou rumos diferentes: alguns seguiram para o oeste, atingindo a Europa e dando origem aos europeus, enquanto outra parcela rumou para o leste, atingindo a Ásia, dando origem aos asiáticos.[4] Os índios das Américas são descendentes desse grupo que seguiu para o leste e povoou a Ásia. Durante a Idade do Gelo, a Ásia era uma região gelada, o que propiciava a formação de grande cobertura de gelo sobre as quais as pessoas podiam caminhar. Naquela época, uma imensa cobertura de gelo existia interligando a Ásia e a América do Norte, no Estreito de Bering. Os seres humanos, ao continuarem migrando rumo ao leste, chegaram àquela região e atravessaram as geleiras, atingindo o que hoje é o estado americano do Alaska. Com o fim da Idade do Gelo, aquela grande cobertura de gelo derreteu e abriu-se o oceano que separa hoje o Continente Asiático do Americano, impedindo novas migrações e separando definitivamente a população que ficou na Ásia da que migrou para a América. Como não havia outra alternativa, essas pessoas continuaram migrando, ao longo de milhares de anos, rumo ao sul, saindo da América do Norte e povoando a América Central e a América do Sul.[4]

O Brasil, ao ser formado pela migração de índios, africanos e europeus, tornou-se um ponto de "reencontro" dessas pessoas que, apesar de terem a mesma origem ancestral, ficaram separadas durante milênios devido às migrações para diferentes partes do mundo. Esses milênios de separação criaram diferenças culturais, linguísticas e fenótipas, em decorrência da adaptação de cada grupo a meios ambientais completamente diferentes. Apesar dessas diferenças serem muitas vezes interpretadas como formadoras de "raças" humanas diferentes, do ponto de vista genético o conceito de raça é infundado.[5].

[editar] O conceito de índio

Família de Botocudos em marcha, Jean-Baptiste Debret

Na Idade Média, a palavra "índio" era empregada para designar todas as pessoas do Extremo Oriente. Ao chegar às Américas, Cristóvão Colombo acreditou que havia encontrado um novo caminho para as Índias e resolveu chamar os nativos que encontrou de índios.[6] O conceito de "índio" é, portanto, uma invenção europeia. Os habitantes originais das Américas nunca se enxergaram como um povo uno. Pelo contrário, diferentes grupos indígenas nutriam grande animosidade e constantemente guerreavam entre si. Povos indígenas de cultura mais desenvolvida, como os incas, astecas e maias, criaram grandes impérios por meio da conquista e da exploração de povos menos desenvolvidos. Os sacrifícios humanos eram práticas constantes na cultura asteca e maia, e índios de tribos inimigas eram capturados e sacrificados em rituais religiosos que incluíam arrancar o coração da pessoa quando ela ainda estava viva, como oferenda aos deuses. O incas construíram seu império subjugando diversos povos que viviam na região, impondo-lhes sua religião, língua e cultura. No Brasil, os tupis viviam ao longo do litoral quando da chegada dos portugueses, mas séculos atrás eles viviam na região da Amazônia. Com o crescimento populacional na Amazônia, os tupis começaram a migrar para o sul, expulsando e exterminando outros povos indígenas que viviam naquelas áreas e ocupando as regiões que historicamente esses outros povos habitaram. Os tupis eram adeptos da antropofagia e tinham o hábito de comer partes do corpo dos guerreiros vencidos das tribos inimigas, pois na sua cultura acreditavam absorver a força do inimigo ao comê-lo.[7]

Preparo da carne humana em episódio canibal, de Theodor de Bry com base nos desenhos de Hans Staden, 1557.
Uma representação de nativos americanos com feições europeias, no século XVI.

Quando os europeus chegaram às Américas encontraram, portanto, não um povo indígena, mas diferentes povos que nutriam animosidade entre si e não se enxergavam como pertencentes a um mesmo povo. Uma "identidade indígena" só foi criada séculos depois, com a chegada dos europeus.[4]

[editar] O encontro com os europeus

Soldados nativos da província de Curitiba escoltando selvagens Jean-Baptiste Debret

A imagem do índio se modificou ao longo da História brasileira. Nos primeiros séculos, o índio era retratado como um selvagem, um "quase-animal" que deveria ser domesticado ou derrotado. No século XIX houve uma reviravolta, por meio do "indianismo romântico". O índio passou a ser tratado como o "bom selvagem". Essa concepção adentrou o século XX, trazendo a ideia de que o índio era dono de uma moral intangível, sendo ele uma vítima indefesa da crueldade europeia, sendo seu destino combater os europeus ou se submeter a eles. Nessa concepção, os índios viviam em harmonia nas Américas, até que chegaram os portugueses e semearam guerras, destruíram pessoas, culturas e plantas.[4] Esse discurso até hoje produz eco nos meios popular e escolar brasileiros. Porém, nas últimas décadas, as novas produções históricas têm dado visibilidade a uma outra análise da questão indígena. Sem negar a violência com que muitos europeus trataram os indígenas, a História têm passado a tratar o índio não como uma vítima passiva da colonização europeia, mas também como um agente que interferiu e teve papel fundamental nesse processo.[4]

Sem a ajuda dos índios, a colonização europeia em diversos pontos das Américas teria sido impraticável. Os espanhóis só conquistaram o Império Asteca graças à ajuda de milhares de índios que eram explorados e se aliaram aos espanhóis para se livrarem da dominação asteca. Quando os espanhóis destruíram o Império Inca, muitos índios celebraram o acontecimento e puderam voltar para suas casas, pois era praxe os incas ordenarem a migração forçada de milhares de índios dominados para outras regiões, com o intuito de impedir uniões e rebeliões contra o Imperador.[8] No Brasil, muitos índios se beneficiaram com a chegada dos portugueses. Os índios tupis do litoral viviam envolvidos em guerras com outros índios. Muitos índios se aliaram aos portugueses visando exterminar grupos indígenas inimigos. Caso emblemático foi a Guerra dos Tamoios, travada no Rio de Janeiro nos anos de 1556 e 1557. Os tupiniquins e os temiminós ajudaram os portugueses a expulsar os franceses da região, e depois contaram com o apoio português para exterminar seus inimigos antigos: os índios tupinambás, ou tamoios.[4] Para um grupo indígena, um outro grupo indígena poderia ser tão "estrangeiro" quanto os portugueses, franceses, espanhóis ou holandeses eram para ele.[8]

Os índios ajudaram os portugueses a escravizar e a exterminar outros índios. As bandeiras, expedições coloniais que visavam a escravização indígena, eram formadas majoritariamente por índios e alguns poucos não índios, denominados de paulistas, eles próprios majoritariamente mestiços de mãe indígena e pai europeu.[4] Em 1605, o padre Jerônimo Rodrigues ficou espantado em Santa Catarina ao ser recebido por índios interessados em vender outros índios, inclusive pessoas da própria família, em troca de roupas e ferramentas. O padre escreveu: "Outro moço vindo aqui onde estávamos, vestido em uma camisa, perguntando-lhe quem lhe dera, respondeu que vindo pelo navio dera por ela por alguma ferramenta um seu irmão (...)"[4]

A aliança entre índios e portugueses proporcionou vantagens para ambos os lados. Os índios se beneficiavam com a presença portuguesa, contando com o seu apoio para exterminar tribos inimigas. As novas tecnologias trazidas pelos portugueses e desconhecidas dos índios provocaram uma revolução e um melhoramento na vida das tribos. Tecnologias como o anzol facilitaram enormente a pesca, o uso do machado diminuiu em várias horas o trabalho dispendido para se cortar coisas, a introdução de novos alimentos, como a banana, a jaca, a manga e a laranja diminuíram o estorvo que era para se obter comida nas tribos ou até mesmo a introdução do cavalo e do cachorro domesticado, que protegia as tribos de ameaças. Para os portugueses também houve benefícios: os índios aliados protegiam as povoações e guiavam os colonos nas suas expedições.[4]

[editar] Integração na sociedade brasileira

Primeira Missa no Brasil de Vítor Meireles, 1860, Museu Nacional de Belas Artes. Imagem com características românticas, mostrando uma integração pacífica, durante o século XIX, o Romantismo tornou o Índio num personagem heroico virtuoso.

Os indígenas ficaram muito interessados no modo de vida dos europeus. Os índios brasileiros ainda viviam no Paleolítico, desconheciam tecnologias como a roda, o espelho ou armas bem elaboradas. A maioria dos grupos indígenas, com a exceção das grandes civilizações dos astecas, maias e incas, ainda levavam um meio de vida primitivo quando comparados às populações da Europa, Ásia e África. Isto porque, desde o derretimento da camada de gelo no Estreito de Bering, separando a Ásia da América com um oceano no meio, os habitantes das Américas passaram a viver isolados do resto do mundo. Enquanto europeus, africanos e asiáticos interagiam desde a Antiguidade, fazendo as tecnologias se espalharem por essas regiões por meio desse choque cultural, os índios ficaram confinados por milênios sem interação com as outras populações humanas, sem poder ensinar ou aprender novas técnicas. Portanto, a chegada dos europeus representou um rompimento de milhares de anos de isolamento. A vida junto aos "brancos" era muito atrativa e muitos indígenas abandonavam voluntariamente suas aldeias e iam viver junto com os portugueses. Em muitos casos, os índios nem precisavam sair de suas tribos, pois com a expansão da colonização essas aldeias eram assimiladas dentro da sociedade ocidental. Centros urbanos como Niterói ou Guarulhos eram aldeias indígenas que se transformaram em cidades.[4]

No Brasil, é corriqueiro o senso comum afirmar que os índios foram "exterminados" e atualmente restam alguns poucos representantes dessa população. É inegável que, com a chegada dos europeus, muitos índios morreram por guerras e pela escravidão. Mas, a grande mortalidade indígena se deu pelo contágio involuntário de doenças trazidas pelos europeus, contra as quais os índios não tinham imunidade, por terem vivido durante milênios isolados de outras populações. Porém, o que muitas vezes se ignora no Brasil é que grande parte da população indígena não pereceu, mas foi assimilada dentro da sociedade brasileira. Muitos índios foram viver ao lado de portugueses e africanos, com eles se miscigenaram, dando origem a grande parcela da população brasileira, sendo que seus descendentes não mais se identificam como "índios".[4]

Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala considera o elemento indígena como formador da identidade social brasileira, principalmente nos primeiros séculos de contato com os europeus, atribuindo um papel essencial às cunhãs, mulheres nativas, como importante agente contribuinte à colonização portuguesa:

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Para a formidável tarefa de colonizar uma extensão como o Brasil, teve Portugal de valer-se no século XVI do resto de homens que lhe deixara a aventura da Índia. E não seria com esse sobejo de gente, quase toda miúda, em grande parte plebéia, além do mais, moçárabe, isto é, com a consciência de raça ainda mais fraca que nos portugueses fidalgos ou nos do norte, que se estabeleceria na América um domínio português exclusivamente branco ou rigorosamente europeu.A transigência com o elemento nativo se impunha à política colonial portuguesa: as circunstâncias facilitaram-na. A luxúria dos indivíduos, soltos sem família, no meio da indiada nua,vinha servir a poderosas razões do Estado no sentido de rápido povoamento mestiço da nova terra. E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o grosso da sociedade colonial, em um largo e profundo mestiçamento, que a interferência dos padres da Companhoa salvou de resolver-se todo em libertinagem para em grande parte regularizar-se em casamento cristão.[9]

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Gilberto Freyre, Casa-Grande & Senzala

É factível que essa miscigenação não foi tão intensa como aquela entre portugueses e africanos e, quando comparado com outros países da América Latina, a contribuição indígena no Brasil é bem menor, mas ela é existente em maior ou em menor grau. Esse processo de assimilação indígena, que já terminou na maior parte do Brasil, ainda está em curso na região Norte. Segundo a Funai, cerca de 25% da população indígena da Amazônia já mora em cidades e só metade desse contingente se considera indígena, mesmo falando uma segunda língua e praticando rituais. Considerando-se todos os brasileiros que têm alguma ascendência indígena, que são vários milhões, a população com ascendência indígena, ao invés de ter diminuído desde 1500, na realidade aumentou dezenas de vezes desde a chegada dos portugueses e a consequente multiplicação da população brasileira por meio da miscigenação entre índios, europeus e africanos.[4]

 

[editar] Conflitos

Nativos brasileiros, por Jean-Baptiste Debret.

Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no território Brasileiro, mais de mil povos, sendo cinco milhões de indígenas [10] Outras estimativas variam entre 2 milhões e meio de indígenas em 1500 a até 6 milhões[11].

Durante o século XIX, com os avanços em epidemiologia, casos documentados começaram a aparecer, de brasileiros usando epidemias de varíola como arma biológica contra os índios. Um caso "clássico", segundo antropólogo Mércio Pereira Gomes, é o da vila de Caxias, no Sul do Maranhão, por volta de 1816. Fazendeiros, para conseguir mais terras, resolveram "presentear" os índios timbira com roupas de pessoas infectadas pela doença (que normalmente são queimadas para evitar contaminação). Os índios levaram as roupas para as aldeias e logo os fazendeiros tinham muito mais terra livre para a criação de gado. Casos similares ocorreram por toda América do Sul[12] As "doenças do homem branco" ainda afetam tribos indígenas no Amazonas